No mês de março, tivemos a iniciativa de entrevistar incríveis mulheres em razão do dia Internacional das Mulheres. A iniciativa foi um grande sucesso! Decidimos, então, ampliar para uma coluna de entrevistas mensais que contará com grandes nomes de Direito e Tecnologia.

Para dar início a nossa coluna, convidamos Guilherme Leonel, advogado e empreendedor que se propõe a inovar o ramo jurídico através do design thinking. Guilherme é mestre pela Universidade de Londres e entusiasta da Tecnologia. Curioso e carismático por natureza, é referência em Legal Design no Brasil e conjuntamente com sua equipe da Lex Design tem feito um belíssimo trabalho, por meio de projetos inovadores, em aproximar diferentes atores para dialogar e enfrentar juntos os desafios jurídicos.

1 – Guilherme, por favor, compartilhe a sua trajetória desde a época da faculdade de Direito até a sua escolha de também trilhar esse caminho “fora da caixinha” de estudar e atuar nesse novo “campo” de Direito e Tecnologia.

Guilherme: Eu sempre gostei de tecnologia. Desde a época do colégio, me lembro de baixar musicas no Napster e aquilo era o máximo para mim. Me formei em 2006 e fui trabalhar com Mercado de Capitais em um escritório. 2 anos depois, tive a oportunidade de empreender pela primeira vez e decidi montar uma startup, que naquela época nem se chamava assim pois o termo ainda não existia. O negócio digital era na área da saúde e, junto com outros sócios, mantivemos a operação por quase 2 anos. Apesar de não conseguir manter o negócio de pé, a experiência de criar uma empresa na área de tecnologia me fez incorporar de vez essa vontade. Fui morar fora para fazer meu Mestrado, voltei a trabalhar em empresas e em escritórios, mas sempre tentando conectar o Direito com tecnologia e inovação. Em 2017 conheci o movimento Legal Hackers e, após muitas experiências dentro do movimento decidi fundar a Lex Design por entender que havia uma necessidade do mercado em aplicar os conceitos de inovação dentro do mundo jurídico.

2 – Qual foi a sua maior motivação (ou motivações) para escolher em se aprofundar, trabalhar e estudar nesse mundo de tecnologia aplicada ao Direito, abandonando, portanto, o jeito tradicional?

Guilherme: Eu sempre digo que sou curioso. Gosto de entender outras coisas, me interesso por outros ramos, setores, etc. Nessa visão, achava que o Direito não estava conectado com outras áreas da sociedade e da ciência. Os costumes, as regras sociais, as maneiras, etc, tudo me parecia meio fora do contexto, ou melhor, dentro de uma bolha onde só viviam advogados. Meu desejo era de furar essa bolha e me misturar com outros tipos de pessoas, de conhecimentos, etc. Me lembro de ir a encontros, meetups de desenvolvedores e designers e parecia outro mundo completamente diferente do meu. Entao eu sentia que queria aproximar esses diferentes polos do conhecimento, essas vontades aliada a minha experiencia passada com uma startup me fez aprofundar de vez no universo da inovação e tecnologia.

3 – Quais habilidades você acredita que a faculdade de Direito tenha auxiliado na sua trajetória pelo Direito e Tecnologia e Design?

Guilherme: Na minha época, as faculdades não tinham essa visão de inovação, tecnologia e empreendedorismo. As matérias eram todas técnicas jurídicas e não me lembro de conteúdos de softs skills ou voltados a inovação de maneira geral. Hoje vejo um movimento, ainda inicial, de faculdades que já incorporam esses conceitos e preparam melhor os alunos. Mas ainda assim é uma parcela pequena. Ouço muitos jovens recém formados que nunca ouviram falar de grande parte dos temas e assuntos que estão sendo tratamos como relevantes na indústria de inovação jurídica.

4 – E as habilidades que você acredita que tenham faltado na faculdade de Direito, para se preparar para enfrentar esse mundo de Direito e Tecnologia?

Guilherme: Eu acho que hoje o profissional do Direito deve compreender um campo de conhecimento maior do que somente as habilidades técnicas jurídicas. Obviamente estas são extremamente relevantes mas, dito isso, outras competências como conhecer ferramentas que podem auxiliar na operação jurídica como automação de documentos, técnicas de legal design para discutir gestão de projetos ou melhorar a experiência do cliente, temas ligados a empreendedorismo ou como abrir seu escritório são assuntos que entendo relevantes e que vejo muita ressonância na academia.

5 – Quais dicas você daria para estudantes de Direito e recém-formados que tenham a intenção de atuar em Direito e Tecnologia, seja como empreendedores ou como prestadores de serviços ou acadêmicos?

Guilherme: Acho que ser curioso, pro ativo e autodidata são caracteristicas fundamentais para qualquer profissional, independente da área de atuacao. Dentro do campo jurídico, acho que os estudantes podem ganhar muito se compreenderem o uso de novas tecnologias e, ao mesmo tempo, desenvolver habilidades comportamentais para melhor compreender as pessoas ao seu redor e, assim, projetar melhores serviços. Estar atualizado e aplicar os temas mais abordados no universo de inovação juridica fará cada vez mais diferença dentro da carreira destes jovens.

6 – Compartilhe:

  1. Sugestão de livro: Tomorrow`s Lawyer, de Richard Susskind
  2. Sugestão de filme: A partida, de Yojiro Takita
  3. Sugestão de pessoa: Papa Francisco
  4. Sugestão de aplicativo: Spotify

7 – Tem algum recado para aqueles que pensam em entrar nessa carreira relacionada a Direito e Design?

Guilherme: Sugiro se aprofundarem mais nas discussões e compreensões sobre Design (no sentido mais amplo da palavra) aquelas pessoas incomodadas com alguma situação e que, dentro da sua própria cabeça, questionem se não poderia ser feito diferente. O design thinking é a chave para resolver estes problemas intrincados numa sociedade cada vez mais complexa. Muitas leituras sobre o tema estão disponíveis na internet e acho que vale a pena se aprofundar e compreender novas formas de pensamento e de resolução de problemas olhando para o lado humano da coisa.

8 – Existe alguma pergunta que você gostaria que eu tivesse feito e não fiz?

Guilherme: Uma curiosidade minha. Eu falo isso e as pessoas não acreditam mas eu não gosto de batata frita e pipoca!

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