Estamos diante de um momento em que muito se discute sobre a inserção de novas tecnologias no meio jurídico e como elas poderão influenciar o ambiente de trabalho. Apesar do receio de alguns profissionais, é preciso destacar que não se trata de uma guerra entre advogados e robôs.
É certo que algumas atividades jurídicas poderão ser exercidas por máquinas, sobretudo em um país com os maiores índices de advogados, processos e faculdades de direito no mundo.
De acordo com o portal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), existem 1.239.814 advogados inscritos na Ordem atualmente. Índices do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) totalizam 78,7 milhões de processos em tramitação no ano de 2018; e, de acordo com o portal StartSe, estamos diante de 1.406 faculdades de Direito no país.
Contudo, em meio a um ambiente de trabalho massificado, decorrente da grande quantidade de profissionais disponíveis no mercado, a tecnologia surge para auxiliá-los, especialmente, no desempenho de atividades repetitivas.
A Inteligência Artificial (IA) é um instrumento que possibilita maior eficiência e assertividade em tarefas que antes eram desempenhadas exclusivamente por juristas, como elaboração de petições iniciais de menor complexidade e de contratos simples.
Nesse cenário, é importante observar que, ao invés de inutilizar a figura do jurista, os impactos causados pelas novas ferramentas no desempenho da atividade jurídica fazem com que os profissionais voltem à sua essência, focando seu esforço em tarefas mais interpretativas e de maior complexidade. Isso porque, apesar da assertividade mencionada, as máquinas não são capazes de exercer habilidades como a empatia, a discussão, o pensamento crítico e a formulação de opiniões e argumentos.
Por que não confiar à máquina, então, funções estatísticas, informacionais e numéricas, que são de sua própria natureza? Os computadores geram números, mas o advogado é o responsável por definir a melhor estratégia para a gestão dos resultados apresentados.
Por vezes, os próprios advogados programam seus computadores para exercer atividades que otimizem seu tempo de trabalho. Assim, o profissional adquire novas habilidades para que a sua rotina, bem como o de outros profissionais, seja otimizada. Vale dizer, os sistemas trabalham a favor do profissional e não contra ele.
A transformação da mentalidade do jurista e a sua adaptação a este novo contexto se tornam cruciais nesse momento de transição, especialmente ao considerarmos a velocidade em que as informações são compartilhadas atualmente, além da crescente interdisciplinaridade existente entre a área jurídica e as demais áreas – fator impulsionado, também, pelo uso da tecnologia.
A área jurídica pode (e deve) se adaptar a esse novo contexto, pois, em uma era de constantes mudanças, a necessidade de inovação contínua é ainda maior.
É fato que se trata de uma profissão considerada “tradicional”, mas essa característica também pode começar a ser analisada sob uma nova perspectiva, já que a essência da função jurídica se mantém ainda que a rotina do profissional da área seja adaptada às novas ferramentas.
A tecnologia não extinguirá os advogados, mas é certo que poderá superar aqueles que se negarem a desfrutar dos seus benefícios. Se nosso melhor cartão de visita é o resultado que entregamos, por que não adaptá-lo à nova realidade, ao invés de lutar contra o seu avanço?
Texto publicado por Vitoria Maciel. Graduanda em Direito na Universidade São Judas, cofundadora do Student Group Legal Hackers e estagiária na área de Media&Advertising do Baptista Luz Advogados.